andar de baixo

Le vent se lève

o inverno chegou

a comida faltou

seis meses

e já precisas da coragem de uma vida


o vento frio arrepia tuas plumas

o medo gela tua espinha

então,

com teu bico, agarras o verão

e deixas para trás teu rincão


É preciso partir


de azul em azul em azul, segues

sem saber para onde

na esperança de que lá

(que não sabes se há)

poderás descansar


É preciso continuar


estás tão longe de casa

voaste por tantos lugares

que não te lembras mais das paredes que deixaste


.......


olho pela janela… uma multidão de asas tomam o céu

em seus rubros bicos, trazem cantos

e o verão

que enchem meu coração


É preciso viver


Today is my birthday.

foto minha no meu aniversário de um ano. estou no colo da minha avó e do meu lado direito meu vô. há balões coloridos e uma mesa com bolos e doces de festa infantil

Hoje completo 25 anos. Às 18:06, pra ser mais preciso. Estranho dizer isso, mas ultimamente tenho gostado de ser eu. Oito ou nove meses atrás eu era tomado por uma angústia quase indizível ao ler Fernando Pessoa dizendo que nunca saímos de nós mesmos, mas já não tenho me sentido assim.

Não sei se é córtex pré-frontal finalmente terminando de se desenvolver ~enquanto escrevo, aguardo com grandes expectativas a bênção quase divina de um cérebro plenamente desenvolvido~, ou se sou eu me conhecendo melhor.

A análise tem me feito muito bem. Duvidar do que penso e questionar os porquês dos meus pensamentos me fizeram sair da rota já conhecida ~e exaustivamente percorrida por minhas débeis sinapses~ e explorar outras maneiras de ver a mim e minha relação com o mundo.

Além disso, percebi que tenho me tornado quem quero ser. Quando paro pra pensar no Davi adolescente que vivia de tristeza, tédio e vazios, fico bastante contente por ter me tornado e ainda estar me tornando uma pessoa aberta ao sentir, seja qual for a emoção ou sentimento. Da paixão ao coração quebrado pela rejeição ou não cumprimento das expectativas, da alegria de ir ver bandas que amo ao choro diante da beleza, sentir tem sido uma delícia.

Uns anos atrás eu percebi que eu poderia viver, que era digno da vida que me foi dada, e me enganei achando que isso seria o suficiente. Não tem três meses que fiquei completamente descaralhado ao me dar conta de que a angústia de viver na sombra do que suponho que os outros esperam de mim é pior do que a angústia de ser eu ~vai tomar no seu cu, Kierkegaard, com todo respeito, claro!

Então aprendi que é gostoso fazer as coisas que gosto ~me choca o quão burrinho sou por ter demorado quase 25 anos pra perceber isso. Não só é gostoso fazer as coisas que gosto, como entendi que fazer o que gosto destrói meu atual eu ~de quem estou farto~ como também constrói o eu que existe aqui dentro há muito tempo, mas nunca pôde ser. Um eu que até pouco tempo atrás não tinha forma, nem estrutura, era só um amontoado de esboços e desejos e que agora ganha ossos, músculos, sangue e um coração pulsante para viver as angústias e as belezas de ser ~deus, tira de mim esse impulso por escrever frases de Instagram, por favor!

No fim do dia, era só ter assistido Neon Genesis Evangelion direito que já tinha resolvido isso tudo há muito tempo ~te entendo, Shinji :’).

É isso. Obrigado por ler <3.

E parabéns pra mim :)

“Eu me odeio.
Mas talvez possa aprender a me amar.
Talvez não tenha problema ficar aqui.
É.
Eu sou apenas eu.
Eu sou eu.
Quero ser eu.
E quero ficar aqui.
E tudo bem ficar aqui!”

- Neon Genesis Evangelion, Episódio 26, “A fera que gritou ‘Eu’ no coração do mundo”

Terapia, abandono e amigos

voltei para terapia!!!

análise pode ser considerada terapia? vou fingir que sim. também não sei se posso considerar uma volta; da outra vez, fui em quatro sessões e quando a terapeuta pediu para eu passar um minuto (!!!) falando bem de mim (!!!!!!!), eu decidi nunca mais pisar lá.

nunca fui tão ofendido por alguém.

nunca fui tão ofendido por mim.

o gatilho para ambas idas foi o coração partido.

na primeira, minha mãe foi atrás por mim. eu não tinha condições de cuidar de mim e minha mãe percebeu (não tinha como não perceber) que eu estava na sombra do fundo poço (e isso porque eu nunca contei para ela das ideações suicidas que tive na época, mas não é aqui que vou contar disso).

dessa vez, eu fui atrás e com ~muito~ incentivo dos meus amigos, consegui agir.

meu motivo principal para ir atrás da análise não é para superar uma decepção amorosa, apesar de esse ter sido o gatilho. enquanto apaixonado, eu me decepcionei comigo mesmo. Vi sentimentos e paranoias em mim que não queria ver nem acreditava que existiam.

a paixão pegou a imagem idólatra que tinha de mim e a transformou em pó. o davi racional, que falava orgulhosamente sobre sentimentos e relações como dono da verdade, inquestionável e sempre correto, só fingiu que existiu; era resultado do meu completo desconhecimento de mim.

o que existe, ou o que acho que existe — afinal, as certezas se foram — é um davi que teme mais do que tudo o abandono, que não sabe lidar bem com a fragilidade das relações e que ainda não consegue ver coisas boas em si (que não sabe, ou não consegue, ou não tem nem a coragem de dizer em voz alta o que é, nem o que não é) e, por isso, teme ficar só.

por outro lado, enquanto sofria do coração e do carnaval, percebi que sou amado. muito obrigado, pai, mãe e amigos. o afeto e convívio de vocês é a coisa mais próxima da realização do meu maior sonho e o lugar mais longínquo do meu maior medo.

viver é bom e vocês (e a arte e o sol — não podemos nos esquecer do calor do sol) fazem a vida valer a pena.